- Tais Luso de Carvalho
Não quero falar sobre o início dos relacionamentos; todos os amores são iguais, só se enxerga qualidades; o amor é o bálsamo dos deuses, quando tudo dá certo. Não é por nada que a palavra amor é a mais linda, a mais sonora e a preferida dos poetas. A coisa flui mansa, não há contestação.
Mas quando se fala numa separação as exclamações são das mais variadas: Nossa!! Santo Deus! Como pode? Que fdp! Entre na justiça! Olhe os bens! E por aí vai. Todos se metem, todos aconselham. E tudo sai da intimidade do casal para o mundo em que vivem.
São difíceis e esdrúxulas muitas das separações. E se dão de inúmeras maneiras; algumas inusitadas. Diferenciam um pouco no palavreado, aquela coisa meio xucra que sai de nossa boca com certa meiguice... (Desculpem a ironia). Mas tanto faz o sotaque ser carregado, cantado, chiado... A destruição é a mesma. O sentido é igual.
É muito difícil haver harmonia entre a família do marido e a da mulher, quando o casal se separa. E são nessas separações que se vê a dimensão do ódio. Antes do primeiro atrito, o céu é azul; depois, não são apenas duas pessoas em processo de separação: são 30! Os telefones entram em colápso com todos os familiares colocando sua lingua ferina em funcionamento, e mais lenha na fogueira. E, havendo filhos, o estrago é maior.
Relacionamento familiar é coisa muito difícil, uma vez que não elegemos ninguém por livre e espontânea vontade para ser nosso amigo. Quando casamos, vêm junto os cunhados, a sogra o sogro e muitas vezes vem mais alguém no pacote.
O filhos, que nada têm a ver com as maluquices e desencantos dos pais, são as primeiras vítimas da história. Esses inocentes passam a viver num burburinho de hipocrisia. As famílias passam a medir forças. As mulheres têm por norma se apoderar totalmente dos filhos; acha que os filhos são só dela. Mas é obrigação do pai sustentá-los - e sem vê-los, se possível. Esse jogo é conhecido, quem já não viu?
Em outras situações, o pai é que desaparece - para se livrar da pensão alimentícia. Se for responsável, vai às vias judiciais procurar seu direito de conviver com os filhos. Então são estabelecidos os dias de visitas, e os parcos dias de férias. Está plantado o estresse, a revolta e a desarmonia na cabeça das pobres crianças.
Mas o caótico vê-se na hora da divisão dos bens: começa a 'brigaiada' pelo televisor, pela geladeira, pelo mobiliário, por um apartamento na praia, pelo carro e até um velho fogão pode virar o centro das atenções, só para deixar o 'ex' na total penúria. Quanto mais na 'M' ficar, melhor. O negócio é deixar o 'ex' depenado. É um prazer incrível. Sádico.
As famílias - paterna e materna - que antes se amavam, que se visitavam e que eram o elo dos amores e da paparicação para com as crianças, já se odeiam.
Ninguém, nessas alturas, tem cabeça para resolver as coisas amigavelmente e pensar no bem estar dos filhos. Agora é guerra declarada. Ainda mais as tias, avós e pais tagarelando e agindo como juizes absolutos da verdade.
Homens e mulheres, portanto, cada um carregando sua fatia de culpa, cooperaram para que o fim da história, que pretendiam fosse um conto de fadas, se torne um inferno.
Porém, o que me deixa mais estarrecida, é a conduta dos pais perante os filhos; uma conduta criminosa, uma vez que os filhos precisam ter a referência masculina e feminina para uma formação saudável, mesmo com pais separados. Mas nisso pouco se pensa; e é aí que o judiciário entra em ação para botar ordem no pedaço, o que é lamentável para a formação das crianças.
Mas são coisas que jamais mudarão, porque homem e mulher não mudam quando as coisas os atingem; mudam suas posturas quando o 'barraco' é na vida dos outros. Aí, são doutores em sabedoria!
Se você conhecer alguém nesta situação, o melhor é ficar longe e não dar palpites: você vai evitar de ficar doente, de ser xingado, de ser odiado por uma das partes e não vai ficar louco! Então um conselhinho: deixe tudo com o advogado das partes!
O amor foi lindo, infinito enquanto durou, como diria o poetinha Vinícios. Além disso tudo, o que me mais me assombra é a rapidez com que o ser humano passa do amor ao ódio. Nessa hora, a poesia também muda de lado.
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