Decepcionado comigo mesmo, despeço pretensos seguidores. Abro mão de ser referência para qualquer coisa. Também admito: um impostor mora dentro de mim; e nem sempre eu o tolero. Quero arrancar fardas, jogar por terra elmos emprestados, descalçar botas e deixar que o menino de calção, que pescava no ribeiro, ressuscite.
Abatido, pretendo refugiar-me no banco de uma catedral. De joelhos, repetirei batendo no peito a litania Minha culpa, minha culpa, minha máxima culpa; meu clamor de purgar inadequações, pecados e imaturidades. Ferido de vergonha, busco purificar os ossos com o sal de minhas lágrimas.
Transformo os versos de Drummond em um Eloi, lama sabactani: “Os ombros suportam o mundo/Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus./Tempo de absoluta depuração./Tempo em que não se diz mais: meu amor./Porque o amor resultou inútil./E os olhos não choram./E as mãos tecem apenas o rude trabalho./E o coração está seco”.
RICARDO GONDIM
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